Estudo Destaca os Desafios de Seletividade da Bitopertina
Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás, sob a coordenação do Prof. Dr. Mauro Cunha Xavier Pinto, realizaram um estudo in silico para avaliar as interações da bitopertina, um inibidor do transportador de glicina tipo 1 (GlyT1), dentro da família de transportadores SLC6, que inclui o GlyT2, PROT e DAT. O GlyT1 é considerado um alvo terapêutico relevante para o tratamento de distúrbios neurológicos, como esquizofrenia e doença de Parkinson, devido ao seu papel na modulação da neurotransmissão glutamatérgica. O estudo buscou compreender o espectro de ação da bitopertina e seu potencial de interação com diferentes transportadores, além de avaliar a eficácia e os possíveis efeitos colaterais.
Os resultados indicaram que a bitopertina não interage apenas com o GlyT1, mas também apresenta afinidade significativa com GlyT2 e PROT. Essas interações foram observadas em regiões de ligação semelhantes, sugerindo um perfil farmacológico mais amplo do que o inicialmente esperado. Essa falta de seletividade pode explicar o desempenho insatisfatório da bitopertina em ensaios clínicos para esquizofrenia, já que a interação com múltiplos transportadores pode gerar efeitos off-target indesejados ou reduzir a eficácia no tratamento do transtorno específico.
A questão da seletividade de fármacos é fundamental no desenvolvimento de novas terapias. Enquanto fármacos de ampla ação, como a bitopertina, podem oferecer vantagens em certas situações, eles também aumentam o risco de efeitos colaterais e complicações. A seletividade aprimorada é desejável para garantir que o fármaco atue de maneira mais precisa no alvo terapêutico, reduzindo interações indesejadas e maximizando o efeito terapêutico. Neste contexto, a bitopertina serve como um caso de estudo para a necessidade de refinamento estrutural e funcional em inibidores de GlyT1, visando maior especificidade.
A pesquisa também destacou o potencial da bitopertina em condições além da esquizofrenia, incluindo a doença de Parkinson, onde a modulação de transportadores como GlyT2 e PROT pode ter efeitos benéficos. No entanto, para otimizar seu uso, é essencial desenvolver versões do fármaco com maior afinidade específica para o GlyT1, diminuindo a probabilidade de interações com outros transportadores que possam comprometer o tratamento.
O estudo foi realizado com o apoio de agências de fomento como FAPEG, CAPES, CNPq e FAPEMIG. Ele representa um passo importante na busca por terapias mais eficazes e seguras para distúrbios neurológicos, ao destacar a importância da seletividade no desenvolvimento de novos fármacos.
de Carvalho GA, Tambwe PM, Nascimento LRC, Campos BKP, Chiareli RA, Junior GPN, Menegatti R, Gomez RS, Pinto MCX. In silico evidence of bitopertin's broad interactions within the SLC6 transporter family. J Pharm Pharmacol. 2024 Sep 3;76(9):1199-1211. doi: 10.1093/jpp/rgae051.